terça-feira, 1 de novembro de 2011

Terapia VNS (Estimulação do Nervo Vago)

Indicação e Informação Geral
A Terapia VNS é uma terapia adjunta, isto é, usada em conjunto com outra terapia, geralmente medicação. É uma opção de tratamento não farmacológico e pode ajudar a proporcionar um novo sentido de controle e independência para pessoas que vivem com epilepsia de difícil controle. Traz inúmeros benefícios ao paciente fazendo com que, dependendo do caso, exista até redução na dose ou uso de medicamentos. Pode reduzir a freqüência das crises em crianças, adolescentes e adultos que sofrem de crises parciais, com ou sem generalização secundária, ou tem crises generalizadas que são refratárias às medicações anti-epiléticas.
A estimulação ocorre devido ao dispositivo implantado somente sob a pele do lado esquerdo do peito. O dispositivo envia impulsos elétricos suaves e intermitentes através de um eletrodo envolto no nervo vago esquerdo, que depois envia sinais para o cérebro.  O nervo vago é um grande elo de comunicação entre o corpo e o cérebro.

Vantagens:
  • Ajuda a prevenir crises de Epilepsia, tendo benefícios duradouros podendo melhorar sensivelmente a qualidade de vida dos pacientes que a utiliza;
  • Tem mínimos efeitos colaterais;
  • É segura e usada em mais de 55.000 pacientes em todo o mundo;
  • Controle Parcial ou até total das crises;
  • O dispositivo é programado individualmente para cada paciente;
  • A ativação do imã pode ser iniciada pelo paciente ou seu acompanhante;
  • O número ou dose dos medicamentos podem ser reduzidos.

Efeitos Colaterais:
  • Os efeitos colaterais relatados são devido à estimulação e são transitórios, geralmente se resolvem com o passar do tempo;
  • Não há interação medicamentosa.

Para mais informações:
POLITEC SAÚDE
Telefone: (11) 3052-1002


A Relação Paciente e VNS

Informação e Conhecimento
É preciso se informar a respeito do que é o tratamento, como é feito e entender, acima de tudo, como funciona a Terapia VNS pós-implante. Para isso, nada melhor do que conversar com o seu médico.
Todos nós sabemos que quando falamos em epilepsia, nada pode ser generalizado. Para cada paciente pode existir uma melhor forma de “solução”. Portanto, para alguns mesmo que estejamos sempre em busca do mais novo e achamos que aquilo pode representar o melhor, nem sempre é isso que acontece. Se por acaso você tiver indicação médica para o uso do VNS, é bom que converse com outros pacientes implantados, pois assim poderá conhecer como é a relação de cada um com o tratamento e saber um pouco mais sobre os resultados obtidos e sentir segurança plena de que sua atitude é segura e poderá realmente ser positiva.

Situações que ocorrem a todos
É impossível controlar a ansiedade e expectativa que há ao iniciar o tratamento. Existem muitos fatores que envolvem tudo isso, em meu caso quando realizei o implante eu já tinha epilepsia há 31 anos e tomei as mais diversas combinações de medicamentos que possam existir e até aqueles que não existem mais. Tentei um tratamento cirúrgico como solução, com muito medo do que pudesse acontecer, mas este foi descartado devido vários fatores. Sendo assim, o VNS veio a ser a solução dos meus problemas. Sabe que eu acredito que pensar que o VNS será a solução de todos os problemas relacionados à epilepsia, pode ser bastante positivo, pois carregamos uma energia boa desde o começo para que as coisas possam dar certas e, é claro, nem tudo o que imaginamos acontece e principalmente quando o assunto é epilepsia.
Devemos estar prontos para uma decepção inicial, já que a expectativa é tão grande que o intervalo de tempo entre fazer o implante e ligar o estimulador é uma verdadeira “tortura” e acreditamos que o simples fato de ligar já trará toda a solução que esperávamos. Somente a partir daí, conseguimos compreender que não nos chamam de paciente por acaso, mas é aí que está, precisamos ser pacientes, mas jamais podemos abandonar nosso otimismo e vontade de lutar sempre pelo melhor resultado.
Temos que saber que existe uma meta a ser alcançada, mas todo e qualquer resultado positivo já pode lhe ser de grande valia e continuar acreditando que acima de tudo você tem relação com um bom profissional e que ele também acredita que pode de alguma forma lhe ajudar.

LOBOS.....


No caso das lobectomias temporais, o sucesso da cirurgia da epilepsia faz com que 65 a 85% dos doentes fiquem livres de crises.





Hemisferectomia
A lobectomia remove uma pequena área cerebral. No entanto, em casos mais raros, as crianças podem ter uma lesão cerebral grave envolvendo uma metade do cérebro, a qual provoca crises incontroláveis e paralisia do corpo do lado contrário.
Quando isto acontece, encara-se a possibilidade de efectuar uma operação mais extensa, chamada hemisferectomia , a qual remove quase um dos lados (hemisfério) do cérebro.
Parece impossível que alguém possa funcionar apenas com uma das metades do cérebro mas, nas crianças, a metade que fica toma conta de algumas das funções da parte removida. No entanto, produz-se fraqueza e perda de alguns movimentos na metade oposta do corpo, bem como perda da visão periférica.
Os centros especializados que praticam esta intervenção, consistindo na remoção de uma metade ou quase uma metade do cérebro, têm excelentes resultados. No entanto, ela acarreta mais riscos que os outros tipos de intervenção. As crianças sujeitas a uma hemisferectomia continuam a ter perda da função do lado do corpo oposta ao da intervenção.

Calosotomia
Este tipo de intervenção corta a ponte onde passam as fibras que conectam uma metade cerebral com a outra (corpo caloso) impedindo a difusão da crise.
Podem responder a este tipo de cirurgia as crises atónicas, as quais afectam ambos os lados do cérebro, não existindo nenhuma área susceptível de remoção.
Nalgumas crises focais que se generalizam, quando o foco não é acessível a remoção ou existem focos bilaterais, também se pode tentar este tipo de cirurgia.
As crises não cessam inteiramente com este tipo de cirurgia, pois continua a haver actividade epiléptica num ou noutro lado do cérebro, mas os seus efeitos tornam-se menos graves.
Frequentemente a calosotomia é praticada em duas fases. A primeira intervenção separa parcialmente os dois hemisférios cerebrais poupando algumas conexões entre eles. Se as crises param, não se fazem mais cirurgias. Se continuam, alguns médicos advogam uma segunda intervenção destinada a separar completamente os dois hemisférios cerebrais.
O risco de complicações ronda os 20%. As crises generalizadas podem parar ou reduzirem-se substancialmente. As crises generalizadas tónico-clónicas e as crises atónicas, para as quais esta intervenção está indicada, têm os seus próprios riscos, pelo que a decisão de intervir deve ter em conta este facto. As crises parciais provavelmente continuarão.

Resseções subpiais múltiplas
Algumas crises originam-se ou difundem-se em partes do cérebro responsáveis por funções de linguagem ou de movimentos. A remoção destas áreas pode levar a perda da linguagem ou paralisias.
Uma técnica, chamada resseções subpiais múltiplas , pode ser usada nestas situações. Consiste em praticar pequenas incisões no cérebro impedindo a difusão dos impulsos responsáveis pelas crises. Esta técnica pode praticar-se isoladamente ou associada à lobectomia.
Exames pré-cirúrgicos
No período precedendo qualquer cirurgia da epilepsia fazem-se os exames necessários para se poder avaliar criteriosamente a situação em causa. A maioria dos testes destina-se a avaliar a zona onde se iniciam as crises, outras vezes empregam-se para identificar as zonas onde residem a linguagem ou a memória, as quais têm de ser evitadas pela cirurgia.
Os exames a empregar dependem do tipo de intervenção e da informação que cada um deles fornece. Os seguintes são os mais usados antes de se tomar a decisão de intervir cirurgicamente:
  • Electroencefalograma (EEG)
  • Ressonância Magnética Nuclear (RMN)
  • Registo video-EEG simultâneo
  • Testes neuropsicológicos
  • Exame psiquiátrico
  • Teste de Wada
  • Tomografia de emissão de positrões (PET)
  • Tomografia computorizada de emissão de fotões (SPECT)
Algumas vezes, mesmo após a realização dos exames acima descritos, podem ser necessárias mais informações para se poder reconhecer a área epiléptica.
O cérebro pode ser estimulado por impulsos eléctricos suaves conduzidos pelos eléctrodos, permitindo a identificação das áreas que controlam a linguagem, os movimentos ou as sensações. Por outro lado pode registar-se a actividade eléctrica anormal, a qual permite fazer um mapa da área a remover (foco epiléptico).
Se este exame mostra a existência de uma única área, passível de uma remoção sem problemas, praticar-se-á uma segunda operação, a qual removerá os eléctrodos bem como a área afectada. Caso contrário, a segunda intervenção limitar-se-á a retirar os eléctrodos.
Por vezes, todos estes procedimentos apontam a cirurgia como o tratamento a aconselhar. Outras vezes não dão a necessária informação e os médicos podem decidir não recomendar a cirurgia.
A Operação
O sucesso da cirurgia da epilepsia depende de uma selecção cuidadosa dos doentes, bem como da existência de equipas médicas e cirúrgicas experientes. A intervenção pode demorar várias horas.
Os cirurgiões localizam e removem a área cerebral previamente identificada como a responsável pelas crises, ou então seccionam cuidadosamente as fibras nervosas que unem as duas metades do cérebro, se este tipo de operação está indicada, ou fazem as incisões necessárias às resseções subpiais múltiplas. O registo de EEG durante a cirurgia pode ajudar o cirurgião a fazer um mapa exacto da área a remover.
Depois da operação o paciente fica cerca de uma semana no hospital, após o que continua a recuperação em casa, retomando gradualmente a sua actividade normal. Habitualmente recomenda-se manter a medicação anti-epiléptica durante mais um a dois anos, mas algumas pessoas podem mantê-la indefinidamente para controlarem eficazmente as suas crises.
Planeamento
Embora uma boa comunicação entre o médico e o paciente seja importante para o tratamento da epilepsia, este aspecto é mais relevante quando se encara a possibilidade de cirurgia da epilepsia dado que, embora a cirurgia da epilepsia seja cada vez mais comum, mais segura e mais eficaz, não deixa de ser uma intervenção cirúrgica no cérebro.
O paciente e a sua família devem ter uma noção realística dos benefícios, dos riscos e das probabilidades de um controlo total ou parcial das crises, havendo a possibilidade de existirem efeitos físicos ou emocionais após a cirurgia, as pessoas podem ficar desapontadas se as crises não param completamente ou se têm de continuar a tomar a medicação, nem que seja durante uns tempos, após a cirurgia.
Geralmente quando as crises param, ou surgem raramente, há um sentimento de satisfação ou alegria, mas algumas pessoas podem deprimir-se; pode ser difícil ter novas expectativas ou alguém ajustar-se a ser uma pessoa sem crises após ter vivido muito tempo com elas.
Na maior parte dos casos estas reacções são temporárias. Tal como os outros aspectos relacionados com a cirurgia da epilepsia, podem ser melhor encaradas se o doente e a família dialogaram com a equipa multidisciplinar, incluindo neurologistas, neurocirurgiões, neuropsicólogos, psiquiatras, enfermeiras.

Tratamento cirúrgico

Recorre-se ao tratamento cirúrgico quando o tratamento por medicação não surte efeito. Para isso, o tecido cerebral lesado, que provoca as crises, tem de estar circunscrito a uma área do cérebro, sendo ainda necessário que esta possa ser removida sem alterar a personalidade ou as funções do doente.
Qualquer médico pode tratar a epilepsia, embora os casos mais complicados possam ser referenciados para o neurologista ou neuropediatra ou dirigidos para as Consultas de Epilepsia ou de Convulsões existentes em vários hospitais. Infelizmente, não há em Portugal centros exclusivamente dedicados a esta doença.
A cirurgia como tratamento
As crises epilépticas são produzidas por uma actividade eléctrica anormal do cérebro. A remoção cirúrgica das áreas cerebrais responsáveis pelas crises iniciou-se há cerca de 50 anos. No entanto, com as novas técnicas cirúrgicas e com novos métodos para identificar as áreas a remover, cada vez mais se fazem operações bem sucedidas. A cirurgia pode ser praticada em crianças e adultos, mas não serve para todas as pessoas com epilepsia ou para todas as que têm mau controlo das crises. Para decidirem se a pessoa beneficia com a cirurgia, os médicos pretendem saber:
  • Os ataques são realmente crises epilépticas?
  • Foi tentado um controlo medicamentoso exaustivo?
  • O tipo de crises pode melhorar com a cirurgia?
  • Os benefícios ultrapassam os riscos da cirurgia?
Há questões individuais, levando a diferentes respostas para cada pessoa, baseadas na história individual e familiar, nos exames neurológico e mental, nos meios auxiliares de diagnóstico, bem como numa bateria de testes pré-cirúrgicos .
Tipos de Cirurgia
Com excepção do implante vagal todos os tipos de cirurgia envolvem o cérebro. De um modo geral podem ser feitos dois tipos de cirurgia:
  • Remoção da área cerebral responsável pela produção de crises.
  • Interrupção das vias nervosas ao longo das quais se espalham os impulsos que transmitem as crises.
As complicações dos diferentes tipos de cirurgia surgem em 4% das intervenções e dependem do tipo de cirurgia praticado.
Lobectomia
As crises iniciadas numa ou mais áreas independentes do cérebro são conhecidas como crises parciais, com uma sintomatologia dependente do local do cérebro onde se originam.
O cérebro está dividido em áreas chamadas lobos: frontais, temporais, parietais e occipitais. Existem dois de cada um destes lobos, situados de cada lado do cérebro. A operação destinada a remover todo ou parte de um destes lobos é chamada lobectomia .
Este tipo de cirurgia pode ser praticado quando uma pessoa tem crises que se iniciam sempre no mesmo lobo, desde que não seja lesada nenhuma função vital. Algumas vezes não é necessário remover inteiramente um lobo, a cirurgia limita-se a retirar apenas o local onde se situa o foco epiléptico.

COMO O MÉDICO FAZ O DIAGNÓSTICO?

O diagnóstico é realizado pelo médico neurologista através de uma história médica completa, coletada com o paciente e pessoas que tenham observado a crise. Além disso, pode ser necessário exames complementares como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem, como tomografia e/ou ressonância magnética de crânio. O EEG é um exame essencial, apesar de não ser imprescindível, pois o diagnóstico é clínico.
Ele ao serve apenas para o diagnóstico, como também para monitorar a evolução do tratamento. Outro exame complementar que pode ser utilizado é o vídeo-EEG, no qual há registro sincronizado da imagem do paciente tendo a crise e o traçado eletroencefalográfico deste momento. As técnicas de neuroimagem são utilizadas para investigação de lesões cerebrais capazes de gerar crises convulsivas, fornecendo informações anatômicas, metabólicas e mesmo funcionais.

COMO SE DESENVOLVE?


O mecanismo desencadeador das crises pode ser multifatorial. Em muitas pessoas, as crises convulsivas podem ser desencadeadas por um estímulo visual, auditivo, ou mesmo por algum tipo específico de imagem. Nas crianças, podem surgir na vigência de febre alta, sendo esta de evolução benigna, muitas vezes não necessitando de tratamento.
Nem toda crise convulsiva é caracterizada como epilepsia. Para tal, é preciso que o indivíduo tenha apresentado, no mínimo, duas ou mais crises convulsivas no período de 12 meses, sem apresentar febre, ingestão de álcool , intoxicação por drogas ou abstinência, durante as mesmas.
O QUE SE SENTE?
A sintomatologia apresentada durante a crise vai variar conforme a área cerebral em que ocorreu a descarga anormal dos neurônios. Pode haver alterações motoras, nas quais os indivíduos apresentam movimentos de flexão e extensão dos mais variados grupos musculares, além de alterações sensoriais, como referidas acima, e ser acompanhada de perda de consciência e perda do controle esfincteriano.
As crises também podem ser precedidas por uma sintomatologia vaga, como sensação de mal estar gástrico, dormência no corpo, sonolência, sensação de escutar sons estranhos, ou odores desagradáveis e mesmo de distorções de imagem que estão sendo vistas.
A grande maioria dos pacientes, só percebem que foram acometidos por uma crise após recobrar consciência, além disso podem apresentar, durante este período, cefaléia, sensibilidade à luz, confusão mental, sonolência, ferimentos orais (língua e mucosa oral).

COMO SE TRATA?
O tratamento da epilepsia é realizado através de medicações que possam controlar a atividade anormal dos neurônios, diminuindo as cargas cerebrais anormais. Existem medicamentos de baixo custo e com poucos riscos de toxicidade. Geralmente, quando o neurologista inicia com um medicamento, só após atingir a dose máxima do mesmo, é que se associa outro , caso não haja controle adequado da epilepsia.
Mesmo com o uso de múltiplas medicações, pode não haver controle satisfatório da doença. Neste caso, pode haver indicação de cirurgia da epilepsia. Ela consiste na retirada de parte de lesão ou das conexões cerebrais que levam à propagação das descargas anormais. O procedimento cirúrgico pode levar à cura, ao controle das crises ou à diminuição da freqüência e intensidade das mesmas.

CONVULSÃO - ATAQUE EPILÉPTICO

O QUE É?
EpilepsiaEpilepsia é uma doença neurológica crônica, podendo ser progressiva em muitos casos, principalmente no que se relaciona a alterações cognitivas, freqüência e gravidade dos eventos críticos. É caracterizada por crises convulsivas recorrentes, afetando cerca de 1% da população mundial.Uma crise convulsiva é uma descarga elétrica cerebral desorganizada que se propaga para todas as regiões do cérebro, levando a uma alteração de toda atividade cerebral. Pode se manifestar como uma alteração comportamental, na qual o indivíduo pode falar coisas sem sentido, por movimentos estereotipados de um membro, ou mesmo através de episódios nos quais o paciente parece ficar "fora do ar", no qual ele fica com o olhar parado, fixo e sem contato com o ambiente. 
A descarga elétrica neuronal anômala que geram as convulsões podem ser resultante de neurônios com atividade funcional alterada (doentes), resultantes de massas tumorais, cicatrizes cerebrais resultantes de processos infecciosos (meningites, encefalites),isquêmicos ou hemorrágicos (acidente vascular cerebral), ou até mesmo por doenças metabólicas (doenças do renais e hepáticas), anóxia cerebral (asfixia) e doenças genéticas. Muitas vezes, a origem das convulsões pode não ser estabelecida, neste caso a epilepsia é definida como criptogênica.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

TIPOS DE CRISES:

Tipos de crise:

As crises convulsivas são a forma mais básica de apresentação das epilepsias. Como foi dito acima, a epilepsia se caracteriza por crises convulsivas de repetição. Um determinado paciente pode apresentar apenas um ou vários tipos de crise. A descrição precisa do quadro, além de como e qual parte do corpo ela acomete inicialmente é peça fundamental para se chegar ao conhecimento de sua causa.

De uma maneira inicial classificamos as crises como generalizadas ou focais. O conceito de focal ou generalizada diz respeito ao envolvimento pela crise de parte ou totalidade do cérebro. Existem ainda crises onde não é possível determinar se elas têm início focal ou generalizado. Elas serão tratadas em seção separada.

Crises Generalizadas:

As crises generalizadas podem ser primariamente ou secundariamente generalizadas. As crises secundariamente generalizadas são na realidade crises focais e serão descritas na seção de crises focais.

Crises primariamente generalizadas:

As crises do tipo primário acometem o cérebro como um todo desde o seu início. Usualmente os pacientes perdem a consciência de maneira repentina, sem sinal prévio, e só sabem que tiveram crise após ela ter passado. Durante os momentos em que estão inconscientes, os pacientes podem apresentar contrações musculares em todo o corpo ou simplesmente "sair do ar" por alguns segundos. As crises generalizadas primárias são classificadas em ausências típicas, ausências atípicas, crises mioclônicas, crises tônicas, crises tônico-clônicas e crises atônicas.

  • a. Ausência típica (também chamada de pequeno mal): crise caracterizada por perda súbita da consciência, interrupção das atividades em andamento e parada do olhar. Usualmente o paciente pára repentinamente de falar, comer ou andar e fica estático. Após alguns segundos retorna a suas atividades sem notar que teve crise. O EEG habitualmente mostra complexos espícula onda de 3 Hz simétricos e bilaterais.


  • b. Ausência atípica: neste tipo de ausência a perda e a volta da consciência costumam ocorrer de maneira menos abrupta. O paciente pode também apresentar esboço de movimentos durante a crise. O EEG costuma ser mais variado e mostra complexos espícula onda irregulares ou outras atividades paroxísticas, normalmente de padrão assimétrico.


  • c. Crise mioclônica: crises caracterizadas por contrações súbitas, tipo choque, acometendo extremidades ou grupos musculares. Ocorrem mais freqüentemente a noite, no início do sono, ou pela manhã após o acordar. O paciente costuma deixar cair objetos das mãos durante as crises. Nem toda mioclonia é relacionada a epilepsia. O EEG mostra complexos espículas ondas ou ondas agudas.


  • d. Crise clônica: crise onde os membros se batem de maneira ritmada, com amplitude mais ou menos constante e envolvem os dois lados do corpo. O paciente pode apresentar intensa salivação. Em geral este tipo de crise faz parte de um quadro onde o paciente inicia com uma crise clônica, evoluiu para uma crise tônica e volta a apresentar movimentos clônicos. Outras vezes a crise se inicia com uma crise tônica e evolui para movimentos clônicos.


  • e. Crise tônica: estas crises se caracterizam por contração lenta dos músculos, em alguns casos pode haver extensão dos membros superiores. Um grito costuma preceder o período em que o paciente pára de respirar, os olhos ficam parados, ingurgitados e podem se desviar junto com a cabeça para um dos lados, os lábios ficam azulados . O paciente costuma cair e com freqüência se machuca pois cai rígido ao solo sem se proteger.


  • f. Crise tônico-clônica -TCG- (também chamada de grande mal): também chamada de crise tipo grande mal, ela é dos quadros mais dramáticos em medicina. Neste tipo de crise o paciente inicia com uma crise tônica, como descrita acima e evolui para uma crise clônica.


  • g. Crise atônica: como o próprio nome diz, esta crise inicia com perda súbita do tônus de todos músculos do corpo levando a imediata queda do paciente ao solo. Ao contrário da queda associada as crises tônicas, nesta crise o paciente cai flácido aumentando as chances de bater com o rosto na mesa ou mesmo no chão. Alguns pacientes que apresentam este tipo de crise com freqüência usam capacetes para evitar ferimentos graves.


  • Crises secundariamente generalizadas:

    Ocorrem devido a propagação das crises focais. Elas usualmente começam em apenas uma parte do corpo, como por exemplo a mão ou o rosto, e desencadeiam crises que acabam por acometer todo o corpo. As crises generalizadas secundárias se apresentam como crises do tipo grande mal (TCG) e podem ser confundidas com as crises primariamente generalizadas quando a propagação ocorre de maneira muito rápida,. As síndromes associadas a este tipo de crise serão discutidas na seção das crises focais.

    Crises focais:

    As crises focais acometem inicialmente apenas uma parte do cérebro. No entanto, elas podem se propagar após alguns segundos e envolver todo o cérebro, levando a crises secundariamente generalizadas. Quando as crises focais se generalizam, isto é, se propagam para todo o cérebro, elas se tornam do tipo grande mal (tônico-clônico generalizadas ou TCG) . Eventualmente, durante sua propagação a crise vai se modificando. No século XIX um neurologista inglês chamado Hughlings Jackson descreveu uma crise acometendo inicialmente a mão que propagava sucessivamente para o braço, o rosto, a perna e finalmente se generalizava. Esta crise foi chamada de marcha Jacksoniana e ilustra um foco irritativo envolvendo progressivamente as áreas adjacentes até acometer o cérebro como um todo. Sabemos no entanto que esta "marcha" pode parar em qualquer momento sem necessariamente se generalizar.

    As crises focais podem se manifestar de inúmeras maneiras dependendo do local afetado inicialmente. O exemplo da marcha Jacksoniana é um caso típico de envolvimento da área do cérebro comprometida com os movimentos. Caso o foco envolvesse a área da visão as crises poderiam se iniciar com manchas coloridas ou se o foco acometesse áreas de sensibilidade os sintomas seriam apenas formigamentos ou alterações da sensibilidade em determinadas partes do corpo. Podemos concluir que as crises focais se manifestam de maneira muito mais variada que as crises generalizadas, além disto, as manifestações clínicas iniciais são importantes para definirmos o local que se encontra irritado no cérebro. Vale a pena lembrar que determinas áreas do cérebro são relativamente silenciosas, ou seja, não são associadas a sintomas clínicos evidentes, desta forma a crise é percebida somente quando há a generalização. Assim, crises focais podem eventualmente se manifestar muito semelhantes às generalizadas.

    As crises focais são classificadas de acordo com o comprometimento ou não da consciência. Elas podem crises parciais simples, quando não há comprometimento da consciência ou crises parciais complexas, quando há comprometimento. Usualmente as crises focais não duram mais que alguns segundos ou poucos minutos. As crises focais podem apresentar sintomas muito variados dependendo da parte do cérebro acometida.



  • a. Crises parciais simples: neste tipo de crise não há perda da consciência. Os sintomas podem variar enormemente dependendo do local do cérebro acometido. Para facilitar a localização de onde a crise se inicia dividimos este tipo de crise dependendo do sintoma inicial.


  • 1. Crises com alterações motoras: parada da fala, movimentos clônicos ou tônicos da cabeça, braço, olhos, etc.

    2. Crises com alteração da sensibilidade: formigamento nos membros, manchas visuais, cheiro ou gosto estranho sem relação com o meio, zumbido, etc.

    3. Crises com distúrbios autonômicos: alteração da pulsação do coração, suor, palidez ou rubor cutâneo, dilatação da pupila.

    4. Crises com alterações psíquicas: distorções da percepção do meio como por exemplo sensação de estranheza em lugares conhecidos ou de conhecer lugares desconhecidos, alteração da forma ou cor dos objetos, sensação de sair do corpo, medo ou euforia inexplicados ou distorções na percepção do tempo.


  • b. Crises parciais complexas: o termo complexo aqui significa a perda da consciência durante a crise. Elas podem ser precedidas ou não por uma crise parcial simples.


  • 1. Precedidas de crises parciais simples: Estas crises se iniciam com uma das crises descritas acima e então evoluem com perda de consciência e movimentos estereotipados, sem propósito, chamados de automatismos. Os automatismos costumam ser movimentos muito complexos como abotoar camisa, segurar pessoas ou objetos, continuar a escrever ou desenhar ou mesmo continuar a dirigir um veículo ou bicicleta. Devemos notar que no caso das crises parciais simples com alterações motoras (descritos no item anterior) os movimentos se caracterizam apenas por movimentos de balançar ou endurecer uma parte ou região do corpo.

    2. Sem ser precedidas por crises parciais simples: neste tipo de crise o paciente perde a consciência desde o início da crise e apresenta automatismos.


  • c. Crises parciais com generalização secundária: neste tipo de crise o paciente pode apresentar inicialmente uma das crises descritas nos itens (a) ou (b) e evoluir para uma crise tônico clônica generalizada (descrita junto com as crises primariamente generalizadas). As vezes a propagaçao da crise ocorre tão rapidamente que ela é confundida com um crise primariamente generalizada.